A partir dali, tivemos que começar a procurar outro jeito de ir embora.
Ligamos para todos os telefones possíveis, que eram basicamente o da empresa do ônibus que tinha nos levado até lá e o do Roberto. Demorou, mas alguém, que eu nem imagino quem era agora, soube nos dizer o que poderíamos fazer: teríamos de ir até
— Hotel o quê? Não tô entendendo, peraí. – e, estendendo o telefone pra mim, ele disse – Vê se você entende. O posto fica do lado desse hotel que ele ta falando.
Peguei o celular, agucei os ouvidos, me preparei e pedi para a pessoa repetir o nome do tal hotel.
— Hotel Ravãí.
— Ah... quê?
— Ravãí. Hotel Ravãí.
Era óbvio que ou ele estava falando errado ou eu e o Blanka não estávamos entendendo. Chamamos dois mototáxis, que chegaram em alguns minutos e souberam decifrar a mensagem, após nossas tentativas infrutíferas de repetir o nome que tínhamos ouvido.
— Rafain.
Então tá. Não sem antes darmos a tradicional passada do Blanka em um Itaú, seguimos para o posto que ficava ao lado do tal Hotel Rafain. Compramos as “passagens” na agência – sim, havia uma agência – que era no próprio posto. O Roberto passou por ali, talvez para encaminhar outras pessoas que não estavam a fim de dormir ali de volta para casa.
Como esperaríamos ainda mais de uma hora, sentamos na sala de espera da agência e, naquele dia movimentado, assistimos Vale a Pena Ver de Novo, que na época passava Sinhá Moça, e assistíamos Sessão da Tarde, quando fomos interrompidos pelo horário do ônibus.
Um funcionário da agência revistava todas as bolsas, sabendo que a revista dos policiais rodoviários seria um pouco mais minuciosa do que a dos agentes da aduana. Ele próprio bagunçou as bagagens muito melhor do que o pessoal da Ponte da Amizade. Merecia ser contratado, ou não.
Subimos no ônibus e, enfim, saímos. Como já havíamos observado na agência, vimos que teríamos várias companhias paraguaias conosco. E eles não são vistos com bons olhos pela Polícia Rodoviária. Fomos parados algumas vezes na estrada. Não pelos paraguaios, e sim porque param mesmo. Em algumas dessas vezes, os policiais pouco se esforçaram. Mas em uma oportunidade, eles vasculharam as bagagens lá embaixo, e subiram no ônibus. Quiseram apreender um videogame de uma mulher, e não o fizeram. Afinal, o direito que eles tinham de fazer isso era nenhum, já que ela tinha o produto regularizado.
Enquanto isso, no banco imediatamente atrás do nosso, um paraguaio solitário lia um jornal. Os policiais logo o viram e passaram a provocá-lo. Perguntaram o que ele ia fazer em São Paulo, o que estava levando, e ele não conseguia responder, de tão nervoso. Cismaram que ele levava drogas ou armas, e, pra piorar, o jornal que ele estava lendo estampava uma notícia sobre paraguaios com problemas no Brasil. Apesar de todo o exagero, já que o rapaz estava limpo, os policiais abandonaram o ônibus tranqüilos, e nos liberaram.
Dali em diante, seguiríamos numa viagem tranq...
Paramos pra comer num restaurante de beira de estrada. Ficamos lá por volta de quarenta minutos, voltamos para o ônibus e... problemas. Ele tinha quebrado. E lá ficamos mais uns quarenta minutos, até ele conseguir sair. Aí sim, dormi. Dormi. E acordei de madrugada com o ônibus parado e o Blanka dizendo que o ônibus tinha quebrado de novo. Mas nem quis saber quanto tempo demoraria, estava cansado e queria dormir. Logo consegui, e aí só fui em acordar em São Paulo. E nunca devo ter ficado tão contente de ver essa cidade. Ainda mais num feriado.
Descemos no mesmo lugar de onde tínhamos saído, só que bem de manhãzinha. Paramos na Luz, ajeitamos as bagagens, e o Blanka seguiu seu rumo, às profundezas dos trens da CPTM. Peguei o metrô vazio, fiz baldeação na Sé, pouquíssimo movimento, uma beleza. Cheguei tranqüilo ao apartamento, ainda tendo que viajar, voltar para minha cidade, Taubaté, onde passaria o feriado prolongado de Corpus Christi. Mas, sem pressa nenhuma, deitei no sofá e deixei as muambas da minha primeira experiência como sacoleiro de lado. Descansei mais um pouco, antes de ir para o Terminal Tietê. Lá, peguei o ônibus para Taubaté. Embarquei, deitei meu assento, e dormi, para talvez sonhar com as últimas 40 horas. É, valeu a pena. Mas que ideia de jerico, hein, Blanka?
Po, eu fui duas vezes pro Paraguai e nenhuma delas foi legal assim...quero adrenalina!!!!!
ResponderEliminarVou fazer um mochilão na Europa em alguma época da minha vida, topa?