quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eleições: considerações

As eleições estão chegando. E, conforme elas se aproximavam, eu sentia a necessidade, há muito tempo, de escrever um post falando sobre algumas coisas que eu penso sobre elas.


Não sou, nem nunca fui, muito fã de Política. Como, aliás, muita gente não é. Sei também que não é bem assim, não tem que gostar, tem que entender o mínimo porque é importante pra sociedade. Apesar de tudo isso, em época de eleições, o meu interesse cresce consideravelmente. Sim, isso não é certo, mas acho mais fácil me interessar quando tudo à minha volta faz lembrar de Política.

Você sai na rua, tem neguinho no semáforo agitando bandeira, placas atrapalhando o fluxo nas calçadas, santinho no chão, santinho enfiado na sua cara, etc. Tem como não se importar? Tem como ignorar? Não tô falando pra ninguém tentar fazer isso, acho ideal todo mundo prestar atenção mesmo, pra não fazer papel de bobo no domingo e, consequentemente, pelos próximos anos. É importante pesquisar, assistir ao horário político, não cair no clichê "ai é chato quero novela RSRS". No mínimo, você vai rir um pouco. Mas o interessante é ver o que os candidatos propõem, ver o quanto eles se importam e perdem tempo criticando as campanhas dos outros. Tudo deve ser levado em conta, inclusive (ou principalmente) entrevistas e debates (ou ausências neles).

O problema de assistir ao horário político e rir um pouco é levar a palhaçada adiante e votar no candidato porque ele é engraçado. Votar nele tudo bem, desde que seja pelas propostas dele. Não faz sentido votar num candidato por birra, por raiva da Política (por consequência, isso acaba elegendo gente que deveria passar longe do governo). O voto em branco existe pra isso, e não vai atrapalhar as eleições. Afinal, é injusto um voto de descaso ter o mesmo peso que o de quem analisou as propostas e tem motivos reais para votar em um candidato.

Já que falei em votos em branco, aproveito a oportunidade pra explicar pra quem talvez ainda não saiba: voto em branco é a mesma coisa que voto nulo. Votar nulo quer dizer que você errou o número, e apenas isso. Não conta como voto válido, assim como o voto em branco. Não tem o poder de anular nem adiar nada, ao contrário do que já tentaram espalhar por aí.

Por fim, o maior problema, pra mim, são as pesquisas de intenção de voto. Pra que elas servem, além de definirem os candidatos que vão aos debates na TV? A abrangência delas também chega a ser ridícula. Sério, nunca conheci nem ouvi falar de alguém que tivesse respondido uma. E, no fim, a divergência das pesquisas para os resultados não é muita. Isso acontece pura e simplesmente por uma coisa chamada influência. Explico: imagine os quatro candidatos mais citados nas pesquisas, atualmente. Se na primeira pesquisa, feita ali em qualquer lugar, com quaisquer mil pessoas, a Dilma disparou, o Serra ficou ali nem pra lá nem pra cá, a Marina ficou lá pra trás, e o Plínio mal apareceu, as coisas mudam. Garanto que tem gente que pretende/pretendia votar no Plínio e na Marina e desistiu porque, acima de querer que seu candidato ganhe, não quer que o Serra ou a Dilma ganhem. E aí vota no que tem mais chances. Pesquisa é uma coisa completamente relativa pra ser levada tão a sério e pra influenciar tanta gente. Não estou falando que o IBOPE, o Datafolha, ou sei lá quem, faz de propósito, porque eles querem a Dilma presidente, não é isso. Apenas acho que os resultados influenciam, sim, o voto, e isso está errado.

Por isso que eu digo, vote por você. Esqueça os outros, esqueça as pesquisas. Não se deixe influenciar por essas coisas. Vote no seu candidato, mas veja o que ele diz de bom, leve o passado dele em conta. Não pense que não vai mudar sua vida. Realmente, pode até não mudar a sua, mas muda a de muitos outros. Vai da consciência de cada um ser egoísta ou não.

domingo, 26 de setembro de 2010

9 coisas sobre mim

Depois de ver isso no blog da Isa e no da Fernanda, resolvi participar da brincadeira. É simples: tenho que falar nove coisas sobre mim. Nem tudo é tão surpreendente como acredito que deveria ser, mas foi nessas coisas que eu consegui pensar. Divirtam-se.

 Um viciadinho

1. Sou viciado em futebol: E é claro que esse não é o primeiro item à toa. Coloco futebol como prioridade em vários momentos, sei que é um defeito, mas não consigo não fazer isso e me sinto mal quando perco um jogo do Flamengo ou não jogo quando poderia estar jogando. Bom, se você me conhece minimamente, você com certeza sabe disso.

2. Não me acostumo, ou demoro pra me acostumar com coisas novas: Sabe o orkut novo? Não gosto, uso o antigo.  Sabe o Facebook? Não gosto. Sabe aquela atualização daquele programa tal? Não vou gostar. E tenho medo do Twitter novo, que, por sinal, ainda não apareceu pra mim. E, sei lá, não é só com essas coisas de internet, isso vale pra outras coisas em geral, costumo me apegar às coisas de forma que não quero que elas mudem.

Update: o Twitter novo apareceu pra mim. E eu não gostei.

3. Deixo tudo pra última hora: Meu ônibus é às 20h? Vou sair de casa às 19h55. O trabalho é pra terça? Vou fazer segunda à noite. Mas não às 21h, vou começar depois de meia-noite. Costumo funcionar sob pressão máxima. Enrolo o quanto puder, e quando vou tentar fazer as coisas mais cedo, acontece alguma coisa, ou me bate a maior preguiça do mundo, e não consigo. Às vezes me esforço e consigo, mas é raro.

4. Não sei dormir no ônibus: Ou melhor, até sei, mas a poltrona ao lado tem que estar vazia. Se tiver alguém do lado, eu babo, quase encosto no ombro da pessoa, quebro o pescoço, etc. O ruim é que costumo pegar ônibus lotado quando volto de São Paulo pra Taubaté. Da última vez, peguei o ônibus com alguns lugares vazios, e, felizmente, não tinha ninguém na poltrona do meu lado. Mas do outro lado do corredor tinham duas meninas. E, na frente da poltrona vazia, alguém que conversava com elas. "Tem um lugar atrás de você", uma delas falou. A pessoa olhou, uma voz na minha cabeça dizia "pega a mala e joga na poltrona, deita, dorme, rápido!", mas não deu tempo. Era um obeso desgraçado cara muito gordo. E ele sentou, sem nem pedir licença, para o meu desconforto pelas duas horas seguintes.

5. Durmo tarde: Não é só em época de trabalhos que eu durmo tarde. Em qualquer dia normal, não costumo sentir sono, e fico perdendo tempo, e, quando me dou conta, já são 2, 3h. Agora, nos fins de semana, principalmente, é proposital mesmo, já que não tenho aula no dia seguinte.

6. Não consigo sair do computador: É difícil eu largar esse maldito. Era assim no auge do Orkut, um sacrifício até pra ir ao banheiro, e parece que só piorou com o Twitter. Pra dormir (um grande motivo pra dormir tarde), pra sair, pra qualquer coisa, tenho um contato magnético com o computador.

7. Não sei cozinhar quase nada: O que eu sei cozinhar: arroz (no microondas), nuggets (da Sadia) e salsicha. E a minha lasanha da Sadia, fica muito boa. De resto, nem miojo - tá, eu não gosto muito, senão me preocuparia em saber. Só sei fazer coisa pronta, coloco no microondas e pronto. A única vez que eu tentei fazer brigadeiro, ficou muito ruim. MUITO. Ah, e tem outro problema: já esqueci o óleo no fogo umas três vezes. Então, se virem na TV que pegou fogo em algum lugar, liguem pra mim. É, às vezes eu não percebo.

8. Sou desastrado: Vivo derrubando tudo, batendo nas coisas e nas pessoas. Por sorte, nunca fui de me machucar muito. Até hoje, só quebrei o dedinho da mão direita, tentando me proteger de um chute na bunda que levei do meu irmão, e o dedinho do pé direito por pensar que era o Tarzan  ao me pendurar numa corda solta num brinquedo de shopping. E torci o tornozelo jogando bola. Mas já "machuquei" várias coisas de vidro em casa. Um dia desses, quebrei dois copos de uma vez, derrubando um prato em cima deles. O prato não quebrou por sorte. E, bom, as pessoas também sofrem. Vivo pisando no pé dos outros, chuto, esbarro (principalmente se eu estiver com mochila nas costas). Sem querer, claro.


9. Sou tímido, falo pouco: Não podia faltar isso, né. Bom, sou tímido. Até aí, tudo bem, muitas pessoas são. Mas eu sou mais estranho. Eu até tento falar com as pessoas às vezes, mas é difícil. Não sei continuar conversas depois de comentários do tipo "É, verdade". Penso bastante pra falar alguma coisa relevante. O interessante é que com os meus amigos eu não sou tímido, às vezes chego até a irritar alguns deles porque não calo a boca. E na internet eu falo pra caramba, mando recados quilométricos no Orkut, xingo muito no Twitter, aí as pessoas que não me conhecem muito se surpreendem. Enfim, se você não me vê falando, saiba: eu não sou mudo nem vivo de mal com a vida (pode reparar que eu tento ser simpático quando não tenho o que falar), sou só tímido em excesso. O grande problema disso tudo é com o curso que eu escolhi - Jornalismo - e eu tenho plena noção disso. Já ouvi, e não gosto de ouvir pessoas - principalmente as que mal me conhecem - falando: "ah, ele faz Jornalismo... faala pra caramba, né?". Sim, eu já ouvi isso, e vou continuar ouvindo, e muito obrigado pra você que pensa assim, mas eu mesmo posso me preocupar com os meus defeitos. Até hoje, depois de dois anos, pensei muito, mas não acho que errei de faculdade. Quando precisa, eu falo, eu me esforço. E acredito que eu posso melhorar, sim.

Bom, é isso. Pra quem ainda não fez, faça. Talvez não seja tão interessante assim para os outros, mas vale a pena pra você mesmo refletir sobre suas manias, seus defeitos. Pra mim valeu.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Agatha Christie: Rainha, do Crime e dos livros


Li apenas sete livros da Agatha Christie. Pouco, perto dos 80 que ela escreveu, além das obras de teatro. Mas afirmo, com toda a segurança, que só o primeiro livro que li foi suficiente para me apaixonar pela obra dela e passar a admirá-la. E, pelo que soube depois, A casa torta nem era um de seus livros mais aclamados, e sequer contava com Hercule Poirot ou Miss Marple. E, depois de ler outros seis livros, ele ainda é um dos que mais gosto.

Dona de uma inteligência mirabolante, seus desfechos são famosos por surpreender o leitor, que não resiste às tentativas de tentar acertar o final da trama. E, em geral, acaba enganado por Agatha.

Hoje, Agatha Christie completa 120 anos de vida. Há 34 anos, ela faleceu, aos 85, mas permaneceu viva ao deixar sua vasta obra para perpetuar-se nas estantes de todo o mundo. Se não fosse desta forma, não estaríamos lembrando hoje de seu aniversário.

Se você ainda não leu qualquer livro dela, não direi que está perdendo tempo, porque nunca é tarde pra começar. Eu mesmo ainda tenho muito o que aprender sobre Agatha Christie, e mais de 70 livros dela pra ler. Também não tenho pressa, porque, a cada livro lido, é triste pensar que estou mais próximo do fim. Apesar de extensa, a coleção termina. E imagino que, depois disso, fica um vazio. Ainda que eterna em nossas estantes, a Rainha do Crime não pode nos escrever mais. Vale saborear cada página de talento que ela nos deixou.

Eh bien... obrigado por tudo, Agatha Christie. E que sua lembrança continue por mais 120 anos.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Rolê paraguaio, parte IV: Voltando


A partir dali, tivemos que começar a procurar outro jeito de ir embora.


Ligamos para todos os telefones possíveis, que eram basicamente o da empresa do ônibus que tinha nos levado até lá e o do Roberto. Demorou, mas alguém, que eu nem imagino quem era agora, soube nos dizer o que poderíamos fazer: teríamos de ir até a casa do c um posto de gasolina, na estrada. A explicação de tal local foi difícil de ser decodificada. Quem estava ao telefone, do nosso lado da linha, era nosso amigo Venício Blanka.

— Hotel o quê? Não tô entendendo, peraí. – e, estendendo o telefone pra mim, ele disse – Vê se você entende. O posto fica do lado desse hotel que ele ta falando.

Peguei o celular, agucei os ouvidos, me preparei e pedi para a pessoa repetir o nome do tal hotel.

— Hotel Ravãí.

— Ah... quê?

— Ravãí. Hotel Ravãí.

Era óbvio que ou ele estava falando errado ou eu e o Blanka não estávamos entendendo. Chamamos dois mototáxis, que chegaram em alguns minutos e souberam decifrar a mensagem, após nossas tentativas infrutíferas de repetir o nome que tínhamos ouvido.

— Rafain.

Então tá. Não sem antes darmos a tradicional passada do Blanka em um Itaú, seguimos para o posto que ficava ao lado do tal Hotel Rafain. Compramos as “passagens” na agência – sim, havia uma agência – que era no próprio posto. O Roberto passou por ali, talvez para encaminhar outras pessoas que não estavam a fim de dormir ali de volta para casa.

Como esperaríamos ainda mais de uma hora, sentamos na sala de espera da agência e, naquele dia movimentado, assistimos Vale a Pena Ver de Novo, que na época passava Sinhá Moça, e assistíamos Sessão da Tarde, quando fomos interrompidos pelo horário do ônibus.

Um funcionário da agência revistava todas as bolsas, sabendo que a revista dos policiais rodoviários seria um pouco mais minuciosa do que a dos agentes da aduana. Ele próprio bagunçou as bagagens muito melhor do que o pessoal da Ponte da Amizade. Merecia ser contratado, ou não.

Subimos no ônibus e, enfim, saímos. Como já havíamos observado na agência, vimos que teríamos várias companhias paraguaias conosco. E eles não são vistos com bons olhos pela Polícia Rodoviária. Fomos parados algumas vezes na estrada. Não pelos paraguaios, e sim porque param mesmo. Em algumas dessas vezes, os policiais pouco se esforçaram. Mas em uma oportunidade, eles vasculharam as bagagens lá embaixo, e subiram no ônibus. Quiseram apreender um videogame de uma mulher, e não o fizeram. Afinal, o direito que eles tinham de fazer isso era nenhum, já que ela tinha o produto regularizado.

Enquanto isso, no banco imediatamente atrás do nosso, um paraguaio solitário lia um jornal. Os policiais logo o viram e passaram a provocá-lo. Perguntaram o que ele ia fazer em São Paulo, o que estava levando, e ele não conseguia responder, de tão nervoso. Cismaram que ele levava drogas ou armas, e, pra piorar, o jornal que ele estava lendo estampava uma notícia sobre paraguaios com problemas no Brasil. Apesar de todo o exagero, já que o rapaz estava limpo, os policiais abandonaram o ônibus tranqüilos, e nos liberaram.

Dali em diante, seguiríamos numa viagem tranq...

Paramos pra comer num restaurante de beira de estrada. Ficamos lá por volta de quarenta minutos, voltamos para o ônibus e... problemas. Ele tinha quebrado. E lá ficamos mais uns quarenta minutos, até ele conseguir sair. Aí sim, dormi. Dormi. E acordei de madrugada com o ônibus parado e o Blanka dizendo que o ônibus tinha quebrado de novo. Mas nem quis saber quanto tempo demoraria, estava cansado e queria dormir. Logo consegui, e aí só fui em acordar em São Paulo. E nunca devo ter ficado tão contente de ver essa cidade. Ainda mais num feriado.

Descemos no mesmo lugar de onde tínhamos saído, só que bem de manhãzinha. Paramos na Luz, ajeitamos as bagagens, e o Blanka seguiu seu rumo, às profundezas dos trens da CPTM. Peguei o metrô vazio, fiz baldeação na Sé, pouquíssimo movimento, uma beleza. Cheguei tranqüilo ao apartamento, ainda tendo que viajar, voltar para minha cidade, Taubaté, onde passaria o feriado prolongado de Corpus Christi. Mas, sem pressa nenhuma, deitei no sofá e deixei as muambas da minha primeira experiência como sacoleiro de lado. Descansei mais um pouco, antes de ir para o Terminal Tietê. Lá, peguei o ônibus para Taubaté. Embarquei, deitei meu assento, e dormi, para talvez sonhar com as últimas 40 horas. É, valeu a pena. Mas que ideia de jerico, hein, Blanka?

domingo, 12 de setembro de 2010

Rolê paraguaio, parte III: Bate-volta

Parte I
Parte II

Acordamos com a luz do dia, já em Foz do Iguaçu.
Dentro do ônibus, mesmo com as janelas fechadas, o frio era intenso. A longa viagem terminou, quando paramos numa rua próxima à Ponte da Amizade. Descemos, bem agasalhados, e seu Araújo nos acompanhou, como um guia turístico. Comemos rapidamente numa lanchonete, em frente à entrada da Ponte. Muitos carros já a atravessavam, mas ainda era cedo, cerca de sete da manhã. Seu Araújo então nos mostrou onde estavam os mototaxistas, que nos levariam a Ciudad del Este. Ele pediu três motos, uma para cada um de nós, e subimos nas garupas.
 
A travessia foi tranquila. E barata. Paguei só dois reais. E por falar em reais, a primeira coisa que fizemos em território paraguaio foi trocar o nosso dinheiro por dólares. Para isso, fomos até uma casa de câmbio conhecida do seu Araújo. Foi melhor pra mim ter esperado pra trocar o dinheiro por lá, porque me rendeu mais dólares do que renderia aqui. Sei disso porque o Venívio Blanka já tinha trocado, e se fudeu não se deu muito bem.

Nós queríamos ir primeiro numa loja de eletrônicos que já tínhamos visto na internet. Seu Araújo, é claro, já conhecia, e disse que nos levaria até lá. No caminho, ele encontrava uma pessoa em cada buraco, cumprimentava, conversava e perguntava da vida. Mas parece que uma dessas setenta e duas pessoas que falaram com ele queria prolongar a conversa, então ele nos indicou o caminho para a loja, que já estava perto, e disse que nos encontrava por volta do meio-dia na Rodoviária de Foz do Iguaçu. Afinal, nós ainda íamos conversar com ele, pro trabalho.

Encontramos a loja, compramos algumas coisas, e andamos pelos shoppings por ali. Constatamos que os preços por lá são realmente atraentes. Vale a pena gastar, desde que se tome cuidado com os impostos. Se você gasta até 300 dólares, fica livre deles. Se gasta mais do que isso, tem de pagar, além  do que gastou, metade do excedente (se gastar 310, paga 315). Dá pra burlar facilmente esse sistema, se você não comprar cinco videogames. Eu gastei muito menos do que a cota, mas a avaliação das minhas compras na aduana foi muito superficial. Do tipo “Deixa eu ver se tem arma aqui... acho que não, tijolo de dorgas também não, ok, vai lá, campeão.” Ou seja, ali pouco importa. O problema é com a polícia rodoviária.

Continuamos andando, entramos em mais algumas galerias e passamos por alguns vendedores ambulantes. Foi nessa região que perdi uma das maiores oportunidades da minha vida (ou não), quando passei reto por um homem que, olhando nos meus olhos (eu não olhava, mas sei que ele o fazia), disse várias vezes em menos de dois segundos:

— Haxixe em pó! Haxixempohaxixempó!

Depois de comprar mais algumas coisas que não funcionariam depois, decidimos voltar. Chegamos ao ponto de táxi próximo à Ponte da Amizade, e pedimos uma corrida. Entramos em um carro e esperamos, ouvindo uma rádio paraguaia. Legal, ouviria pela primeira vez uma rádio paraguaia, que tocaria músicas paraguaias como te dei o sol te dei o mar pra ganhar seu coração você é raio de saudade meteoro da paixão explosão de sentimentos que eu não pude acreditar aah como é bom poder te amar.

Após ouvirmos tal desaforo, o taxista, que se chamava Miguel, entrou e nos levou de volta para terras brasileiras. Não sem antes contar sobre sua vida, para nos ajudar um pouco mais no nosso trabalho, e sem parar na aduana. Passamos por lá sem maiores problemas, como já falei. E seria da mesma forma se carregássemos haxixe em pó na cueca.

Feito isso, o Miguel nos levou até a rodoviária, onde ficamos por algumas horas. Conversamos com duas meninas paulistanas e com uma sacoleira/feirante/artesã de Campo Grande, que esperavam seus ônibus de volta. Seu Araújo não apareceu por lá, e, com isso, comprometeu uma parte do trabalho, porque não perguntamos o primeiro nome dele, e não conseguimos localizá-lo pela internet depois. Sabíamos apenas que ele era de São Bernardo, e só.

Já tínhamos um bom material. Tínhamos conhecido o Paraguai, compramos algumas coisas. Faltava voltar pra casa. E voltaríamos no mesmo ônibus, que sairia na própria quarta-feira. Só que tivemos um problema: na quinta-feira era feriado de Corpus Christi, e o Roberto (aquele da novela mexicana de baixo orçamento, responsável pelo ônibus) e sua galera tinham decidido ficar até quinta. E a gente, que queria ir logo embora de uma vez?

A partir dali, tivemos que começar a procurar outro jeito de ir embora.

Continua... 

Parte IV 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Rolê paraguaio, parte II: Indo

Parte I

O dia chegou. 1º de junho de 2010, terça-feira. Nós iríamos para o Paraguai.



A hora de saída do ônibus se aproximava. Às seis da tarde, nós estaríamos viajando rumo a Foz do Iguaçu. Eu e o Vinícius Blanka combinamos de chegar às cinco e meia na Estação da Luz. Ele sairia da estação Santa Cruz. Eu, da Marechal Deodoro. Fechei a porta do apartamento pouco antes das cinco, e entrei no elevador. A porta bateu de um jeito estranho, e ele não desceu. “Bom sinal, hein!”, pensei. Apertei o alarme, mas nada aconteceu. Fiquei um minuto ali parado, até que a porta abriu, e eu desci pelo outro elevador. Sei lá o que aconteceu.

Alguns minutos depois, peguei o metrô, que estranhamente não estava lotado, e cheguei pouco antes das cinco e meia na Luz. Liguei para o Blanka, que ainda estava saindo do trabalho e deveria chegar até dez para as seis. Dez minutos antes de o nosso ônibus sair. Fiquei tenso, ia dar tudo errado, íamos perder o ônibus. E, mais atrasado do que o prometido, o Blanka chegou. Não sabíamos direito pra que lado sair, e eu ainda escolhi a saída errada, pela Prestes Maia, que é um pouco mais longe da Barão de Duprat, de onde o ônibus sairia. Acabamos chegando lá um pouco depois das seis, e, para meu alívio, muita gente ainda se aglomerava por ali. Procuramos a Laís, com quem o Blanka tinha falado anteriormente, e descobrimos que ela não iria. Quem iria era o Roberto, um cara estilo galã de novela mexicana de baixo orçamento. Ele perguntou nossos nomes, anotou numa prancheta, e nós entramos no ônibus. Passagem? O que é isso?

Não era um ônibus vagabundo, como eu pensei que fosse. Era bem decente, até, me surpreendi. Sentamos nas nossas poltronas, e esperamos. Só saímos meia hora depois, o suficiente pra eu me achar idiota por ficar tenso com o horário. Enquanto isso, eu me acostumava com a ideia de estar dentro de um ônibus de sacoleiros, indo para Foz do Iguaçu. Enfrentaríamos assaltantes na Ponte da Amizade, passaríamos da cota sem pagar impostos, consumiríamos haxixe, e seríamos presos pela Polícia Federal. Ou não.

Logo no começo da viagem, dormi. Acordei quando paramos para comer, não tinha nem passado das nove da noite. Mas essa seria a única parada. Enquanto comíamos, lembramos que havia um trabalho a ser feito. Observávamos as pessoas que viajavam conosco no ônibus. Sentamos com um senhor, que pensávamos que estava com a gente. Conversamos um pouco, até ele dizer que era um caminhoneiro da região. Isso significa que ele era imprestável para nossos interesses, então não continuamos com a conversa. Depois de comermos, identifiquei um outro senhor, com uma expressão simpática, que estava no ônibus.

- Blanka, aquele ali parece ser simpático. – eu falei.

 De volta ao ônibus, ele estava sentado com um outro homem, esse não muito simpático, nas poltronas ao lado das nossas. O Blanka, com toda sua alegria, começou a conversar com ele. Ajustamos o gravador, e o senhor, que se chamava Araújo, falou. Falou bastante, contou da vida dele, que viajava toda semana, que era de São Bernardo, que foi dirigente sindical, nos deu maiores explicações sobre como faríamos em Foz do Iguaçu, para atravessarmos a Ponte da Amizade, e como deveríamos proceder no Paraguai, em que lojas poderíamos ir e quais lojas precisaríamos evitar. Ótimo, já tínhamos alguém pra colocar no trabalho. Depois de muito ouvir seu Araújo falar, nós dormimos, confortavelmente, nas poltronas. Ressalto isso, porque tinha gente estendendo colchão no corredor do ônibus, que era de uma largura mínima.

Acordamos com a luz do dia, já em Foz do Iguaçu.

Continua...

Parte III 
Parte IV