domingo, 12 de setembro de 2010

Rolê paraguaio, parte III: Bate-volta

Parte I
Parte II

Acordamos com a luz do dia, já em Foz do Iguaçu.
Dentro do ônibus, mesmo com as janelas fechadas, o frio era intenso. A longa viagem terminou, quando paramos numa rua próxima à Ponte da Amizade. Descemos, bem agasalhados, e seu Araújo nos acompanhou, como um guia turístico. Comemos rapidamente numa lanchonete, em frente à entrada da Ponte. Muitos carros já a atravessavam, mas ainda era cedo, cerca de sete da manhã. Seu Araújo então nos mostrou onde estavam os mototaxistas, que nos levariam a Ciudad del Este. Ele pediu três motos, uma para cada um de nós, e subimos nas garupas.
 
A travessia foi tranquila. E barata. Paguei só dois reais. E por falar em reais, a primeira coisa que fizemos em território paraguaio foi trocar o nosso dinheiro por dólares. Para isso, fomos até uma casa de câmbio conhecida do seu Araújo. Foi melhor pra mim ter esperado pra trocar o dinheiro por lá, porque me rendeu mais dólares do que renderia aqui. Sei disso porque o Venívio Blanka já tinha trocado, e se fudeu não se deu muito bem.

Nós queríamos ir primeiro numa loja de eletrônicos que já tínhamos visto na internet. Seu Araújo, é claro, já conhecia, e disse que nos levaria até lá. No caminho, ele encontrava uma pessoa em cada buraco, cumprimentava, conversava e perguntava da vida. Mas parece que uma dessas setenta e duas pessoas que falaram com ele queria prolongar a conversa, então ele nos indicou o caminho para a loja, que já estava perto, e disse que nos encontrava por volta do meio-dia na Rodoviária de Foz do Iguaçu. Afinal, nós ainda íamos conversar com ele, pro trabalho.

Encontramos a loja, compramos algumas coisas, e andamos pelos shoppings por ali. Constatamos que os preços por lá são realmente atraentes. Vale a pena gastar, desde que se tome cuidado com os impostos. Se você gasta até 300 dólares, fica livre deles. Se gasta mais do que isso, tem de pagar, além  do que gastou, metade do excedente (se gastar 310, paga 315). Dá pra burlar facilmente esse sistema, se você não comprar cinco videogames. Eu gastei muito menos do que a cota, mas a avaliação das minhas compras na aduana foi muito superficial. Do tipo “Deixa eu ver se tem arma aqui... acho que não, tijolo de dorgas também não, ok, vai lá, campeão.” Ou seja, ali pouco importa. O problema é com a polícia rodoviária.

Continuamos andando, entramos em mais algumas galerias e passamos por alguns vendedores ambulantes. Foi nessa região que perdi uma das maiores oportunidades da minha vida (ou não), quando passei reto por um homem que, olhando nos meus olhos (eu não olhava, mas sei que ele o fazia), disse várias vezes em menos de dois segundos:

— Haxixe em pó! Haxixempohaxixempó!

Depois de comprar mais algumas coisas que não funcionariam depois, decidimos voltar. Chegamos ao ponto de táxi próximo à Ponte da Amizade, e pedimos uma corrida. Entramos em um carro e esperamos, ouvindo uma rádio paraguaia. Legal, ouviria pela primeira vez uma rádio paraguaia, que tocaria músicas paraguaias como te dei o sol te dei o mar pra ganhar seu coração você é raio de saudade meteoro da paixão explosão de sentimentos que eu não pude acreditar aah como é bom poder te amar.

Após ouvirmos tal desaforo, o taxista, que se chamava Miguel, entrou e nos levou de volta para terras brasileiras. Não sem antes contar sobre sua vida, para nos ajudar um pouco mais no nosso trabalho, e sem parar na aduana. Passamos por lá sem maiores problemas, como já falei. E seria da mesma forma se carregássemos haxixe em pó na cueca.

Feito isso, o Miguel nos levou até a rodoviária, onde ficamos por algumas horas. Conversamos com duas meninas paulistanas e com uma sacoleira/feirante/artesã de Campo Grande, que esperavam seus ônibus de volta. Seu Araújo não apareceu por lá, e, com isso, comprometeu uma parte do trabalho, porque não perguntamos o primeiro nome dele, e não conseguimos localizá-lo pela internet depois. Sabíamos apenas que ele era de São Bernardo, e só.

Já tínhamos um bom material. Tínhamos conhecido o Paraguai, compramos algumas coisas. Faltava voltar pra casa. E voltaríamos no mesmo ônibus, que sairia na própria quarta-feira. Só que tivemos um problema: na quinta-feira era feriado de Corpus Christi, e o Roberto (aquele da novela mexicana de baixo orçamento, responsável pelo ônibus) e sua galera tinham decidido ficar até quinta. E a gente, que queria ir logo embora de uma vez?

A partir dali, tivemos que começar a procurar outro jeito de ir embora.

Continua... 

Parte IV 

1 comentário:

  1. Três coisas:
    1 - se vai comprar haxixe que seja em Amsterdã..tenha classe! (EU SOU RICA!)
    2 - música paraguaia = "meteoro da paixão" = AHHahAHhahHAHahhAH (urinei litros)
    3 - meu avô era paraguaio...

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