quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Exploração Bienal

Bienal do Livro: preços altos, gente e crianças perdidas. (Foto: Agência Estado)

Uma das primeiras coisas que disse aqui foi que eu sempre gostei de ler. Vivia na biblioteca da escola, mas sempre comprei também. Os preços dos livros costumavam ser mais baixos quando eu era criança, mas lembro de vê-los aumentando, aos poucos. Ao mesmo tempo que a população brasileira, de um modo geral, era (e segue sendo) tachada de desinteressada por livros.

É complicado julgar o brasileiro desta forma. Primeiro porque os livros, caros como estão, comprometem o salário do trabalhador. Segundo, porque esse desinteresse não é tão grande como sempre ouvi dizer. O brasileiro lê sim, apesar de tudo. Ou a Bienal do Livro não receberia um público enorme durante seu período de exposições.

E a Bienal abusa do público, sem o menor pudor, apesar de os ingressos não serem caros (10 reais, e quem pode paga meia). A começar pelo estacionamento, que custa singelos 25 reais. E não, você não ganha livros de brinde. Ainda assim, pelo que eu vi, é difícil encontrar vagas. Para quem vai de metrô, é a coisa mais fácil do mundo: descer na estação Tietê e sair pelas escadas ao lado do acesso ao metrô sentido Jabaquara. Atrás do minishopping, várias vans, ou mesmo ônibus fretados te levam ao Pavilhão do Anhembi, de graça. E, para voltar, é só esperar no mesmo lugar.

Mais abusivo que o estacionamento, só as praças de alimentação. Num restaurante, o seu prato sai por apenas R$39,50 o quilo. Lanches também não são baratos, nem refrigerantes. É melhor ir sem fome, ou passar fome.

Mas o abuso mais irritante de todos é o preço dos livros. A Bienal é uma grande livraria. Os preços não são diferentes, e era isso o que eu esperava do evento: diferença. Confesso que, quando cheguei, tinha esperança, mas a cada stand eu via preços até mais chocantes que os das livrarias. Quando criança, eu lia alguns livros da coleção Vaga-Lume, pagava R$15, mais ou menos, em cada um. E lá fui eu conferir o preço de um deles. R$27.

Você já leu Flicts, do Ziraldo? É ótimo pra quem está aprendendo a ler. É grande, colorido, e com um ou dois parágrafos por página. Não lembro mais da história, mas lembro disso. E de que esse livro não custava, em hipótese alguma, TRINTA reais.

Ir à Bienal requer também paciência com crianças. Elas não sabem de onde vieram nem pra onde vão, ficam paradas, surgem na sua frente, e atrapalham o fluxo. Excursões escolares são uma tragédia na vida de quem quer apenas comprar uns livros. Os responsáveis pela excursão com certeza devem pensar "aiquelindo meus alunos vão na bienal vão ver livros vão querer ler e ser alunos melhores", mas os alunos querem se pegar nos corredores, entrar na internet do Espaço Volkswagen e tirar foto com um Justin Bieber de papelão. A grande maioria está ali porque os outros estão, e pra promover a algazarra. Por outro lado, vi crianças pequenas lendo livros, inclusive uma menininha de uns quatro ou cinco anos chorando porque não tinha dinheiro pra comprar nenhum. E, coitada, se tivesse, mal ia conseguir comprar um.

Pra mim, o que ficou de positivo foi o stand do Submarino. Apesar de não venderem livros ali, por motivos que desconheço, atualmente são eles que os vendem por preços justos. Serve mais como propaganda do site. Eles também promovem a interação com livros digitais, por meio do Cool-er, fabricado pela Gato Sabido, que eu não conhecia. Parece ser uma versão pobre mais modesta do Reader, da Sony.

Apesar do recorde de público, a Bienal foi um fracasso. Não adianta receber milhares de pessoas e não colaborar com as condições financeiras de grande parte delas. Não adianta receber quase 200 mil estudantes e se vangloriar disso, se não é isso o que a maioria deles quer. Para quem realmente procura livros a um preço acessível, o melhor lugar não é a Bienal, nem sequer as livrarias. Infelizmente.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Rolê paraguaio, parte I: Ideias e planos

Ponte da Amizade


Vou contar essa história, da minha viagem ao Paraguai, em uma série de três posts, acredito eu. Talvez seja necessário mais um.

Divirtam-se.

Há uns dois meses, estávamos prestes a entrar no segundo bimestre da faculdade e receber mais setecentos e dezenove pedidos de trabalhos pra fazer. Em um deles, nosso professor de Comunicação Comparada, Luís Mauro, nos pediu o seguinte: nós devíamos contar uma história. Como jornalistas, deveríamos conversar com algumas pessoas e ampliar o nosso tema no trabalho. Ele citou como exemplo um trabalho em que algumas garotas foram às ruas e conviveram com catadores de papelão.

Sem limite de páginas, sem limite de pessoas por grupo, nós deveríamos usar o bom senso. Logo fechamos o nosso grupo, o de sempre: eu, Vinícius e Victor. Já durante a aula, comecei a pensar em alguma coisa, mas não consegui encontrar nada interessante. Perguntei ao Vinícius - que, a partir daqui, vou chamar de Blanka, afinal esse é o verdadeiro nome dele desde que entrou na faculdade – se ele tinha pensado em algo.

Blanka anotando sua ideia para o trabalho de Comunicação Comparada

- Até pensei, mas vamos ter que sair do país.

Eu ri. Sair do país pra fazer um trabalho de faculdade? Falô.

- E sobre o que seria?

- Sobre os sacoleiros que vão fazer compras no Paraguai e vêm vender aqui.

Eu não levei a sério. O tema era até interessante, mas a gente gastaria um bom dinheiro com passagens, fora as muambas que nós obviamente compraríamos lá.

No laboratório de redação, depois da aula, perguntamos pro Victor se ele tinha pensado em algum tema. Não tinha. Contamos pra ele a ideia absurda de ir pro Paraguai, que, acredito eu, nem o próprio Blanka tinha levado a sério.

- Ô, legal. Vamo aê. – ele disse, meio rindo.

- É, até parece. – eu respondi, achando que era brincadeira.

- Não, falando sério, vamo.

Não acreditei. Será que só eu era normal ali e achava aquilo uma viagem? Não, eu também não era. Porque de repente comecei a considerar a ideia, e, quando eu percebi, já estava visitando o sacoleiros.com, procurando horários e preços de ônibus. Percebi que aquele realmente seria o nosso tema. Eu ainda custava um pouco a acreditar que eu estava dentro daquela loucura. Mas, algum tempo depois, começamos a agir para planejar a viagem.

O preço das passagens de ônibus seria a primeira facada no peito. Isso se nós fôssemos viajar nos ônibus de linha que saem do terminal Tietê. Mas, além de ser muito caro, não teria emoção. Então, durante nossas pesquisas, descobrimos que, perto da rua 25 de março, na esquina da Senador Queirós com a Barão de Duprat, os sacoleiros se reuniam para viajar em ônibus irregulares até Foz do Iguaçu. Mas não sabíamos o preço, nem a frequência com que os ônibus saíam. O Blanka foi até lá, onde foi orientado a falar com uma moça na padaria da esquina. A tal moça, Laís, disse que os ônibus saíam duas vezes por semana: às terças-feiras, e voltavam no dia seguinte; e às sextas-feiras, voltando apenas na segunda-feira. Pela metade do preço dos ônibus regulares.

Como queríamos ir num dia e voltar no outro, optamos por uma terça-feira. E, depois de muita conversinha, o Victor desistiu, por motivos financeiros. Mas eu e o Blanka insistimos e confirmamos a viagem. Falaríamos com algum sacoleiro na ida, procuraríamos alguém em Foz do Iguaçu, e teríamos material para o trabalho.

Até que o dia chegou. 1º de junho de 2010, terça-feira. Nós iríamos para o Paraguai.

Continua...
Parte II 
Parte III 
Parte IV