terça-feira, 29 de março de 2011

Hora da Hipocrisia

No último sábado, aconteceu a "Hora do Planeta". Muito bem, e o que é isso? É um ato simbólico promovido pela WWF ao redor do mundo para que as pessoas se conscientizem do aquecimento global. Para isso, elas devem apagar as luzes de suas casas e deixá-las assim durante uma hora. E muitas delas acham que estão mudando o mundo. E é esse o problema.
Apago quando quiser, falô?

A campanha da WWF pode ser boa, não a critico. Critico a forma como as pessoas lidam com ela. Como a própria WWF diz, o importante é se conscientizar "Além da Hora". E duvido que os participantes do "evento" pensem assim. Tenho certeza que, no sábado, quando a "Hora" terminou, às 21h30, muita gente acendeu todas as luzes de casa, foi tomar banho de 1 hora, escovou os dentes com a torneira aberta... Sinceramente, quem fez isso não se conscientizou de porcaria nenhuma. Qualquer um que apagou uma luz e acendeu outra uma hora depois certo de que salvou o mundo não se conscientizou de nada.

Eu não participei porque não sou hipócrita. Eu não acho que gasto energia excessivamente, mas não me preocupo nem um pouco em economizar. Por isso não vejo motivo pra apagar as luzes de casa e achar que estou me conscientizando de alguma coisa. Não tem lógica.

Enfim, não participei, não por revolta ou rebeldia, mas por coerência mesmo. E não acho que apagar a luz durante uma hora me faz menos preocupado com o planeta. É apenas uma campanha. Ninguém é obrigado a ser hipócrita.

domingo, 13 de março de 2011

"Não acredite na internet", de Pedro Bial (ou não)

A internet é uma caixinha de surpresas

Há algum tempo, vi uma frase no Twitter que julgava quem assiste BBB. Quem escreveu? Alguém que não gostava de BBB, e queria que essa frase fosse muito divulgada. Mas, logo após a frase, estava o nome de ninguém mais, ninguém menos que Luis Fernando Verissimo. Achei a frase muito estranha, procurei o trecho no Google, e descobri que na verdade não era apenas uma frase, e sim um fragmento de um texto totalmente contra o programa, que pegava todos os seus pontos fracos, e a partir deles, julgava a inteligência dos telespectadores. Algo, a meu ver, que não combinava com um escritor que, apesar de não conhecer muitos livros dele, não agiria dessa forma.

Com um pouquinho de pesquisa, comprovei que o texto não era dele. E ri da cara das pessoas que acreditaram que aquilo tivesse sido escrito por ele, e usaram aquele texto de algum Zé para simplesmente criticar quem assiste BBB. E, ao mesmo tempo, fiquei assustado com a forma como as pessoas, por um simples nome ao fim de um texto, são enganadas nesse mundão louco chamado internet. Se, ao fim dele, estivesse escrito "Alejandro Vega, estudante de Direito", ou "Marcos Rodrigo, estudante de Jornalismo", as pessoas contrárias à opinião dele iriam xingar o infeliz sem dó nem piedade. Ou nem isso: o texto jamais atingiria tanta gente como atingiu.

Para quem se interessar por essa obra-prima de Verissimo, leia aqui. O interessante é que esse link é de um blog e, ao fim do post, o autor do blog colocou a seguinte observação: "Não há confirmação de que são palavras de Luis Fernando Veríssimo". Ah, cê jura? Das duas, uma: ou sabia disso e postou porque queria ganhar visitas, ou postou porque queria ganhar visitas e só soube depois dos comentários. Por sinal, o post é o mais acessado do blog.

Eu sem camisa

Duvide do que você lê na internet. Inconscientemente, você pode acreditar em algo e concordar só por causa de um nome famoso. A Clarice Lispector tá aí (ou não) pra não me deixar mentir. Qualquer frase bonitinha que tenha o nome dela escrito em sequência vai fazer sucesso. E tenho provas disso. A frase "É estranho sentir saudade de algo o qual mal vivi ou evitava viver" foi inventada de propósito no Twitter, e "creditada", de brincadeira, à Clarice. O Twitter @FrasesdeClarice, mais um desses perfis imbecis que twittam frases bonitinhas, trechos de livros ou de músicas, acreditou nisso. E todo mundo começou a colocar a frase no Twitter, no status do Orkut e do Facebook, no Flogão, no ICQ e até no Yahoo! Respostas (apesar de acreditar que, nesse último, o autor da pergunta seja mais um dos "zuões"). A turma "zuona" criou até um Tumblr para divulgar o pessoal que caiu na história.

Portanto, duvide. Você está na internet, onde as pessoas não se preocupam  em manter a identidade. Ler um nome no fim ou no início de um texto não deve fazer você concordar ou discordar do que está escrito ali.

Pra encerrar, uma frase linda que ilustra muito bem tudo o que eu disse: "Gente, essa internet é um perigo!!!11!!" (Clarice Lispector)

Pedro Bial, jornalista.

Fiquem de olho nessa internet