Uma das primeiras coisas que disse aqui foi que eu sempre gostei de ler. Vivia na biblioteca da escola, mas sempre comprei também. Os preços dos livros costumavam ser mais baixos quando eu era criança, mas lembro de vê-los aumentando, aos poucos. Ao mesmo tempo que a população brasileira, de um modo geral, era (e segue sendo) tachada de desinteressada por livros.
É complicado julgar o brasileiro desta forma. Primeiro porque os livros, caros como estão, comprometem o salário do trabalhador. Segundo, porque esse desinteresse não é tão grande como sempre ouvi dizer. O brasileiro lê sim, apesar de tudo. Ou a Bienal do Livro não receberia um público enorme durante seu período de exposições.
E a Bienal abusa do público, sem o menor pudor, apesar de os ingressos não serem caros (10 reais, e quem pode paga meia). A começar pelo estacionamento, que custa singelos 25 reais. E não, você não ganha livros de brinde. Ainda assim, pelo que eu vi, é difícil encontrar vagas. Para quem vai de metrô, é a coisa mais fácil do mundo: descer na estação Tietê e sair pelas escadas ao lado do acesso ao metrô sentido Jabaquara. Atrás do minishopping, várias vans, ou mesmo ônibus fretados te levam ao Pavilhão do Anhembi, de graça. E, para voltar, é só esperar no mesmo lugar.
Mais abusivo que o estacionamento, só as praças de alimentação. Num restaurante, o seu prato sai por apenas R$39,50 o quilo. Lanches também não são baratos, nem refrigerantes. É melhor ir sem fome, ou passar fome.
Mas o abuso mais irritante de todos é o preço dos livros. A Bienal é uma grande livraria. Os preços não são diferentes, e era isso o que eu esperava do evento: diferença. Confesso que, quando cheguei, tinha esperança, mas a cada stand eu via preços até mais chocantes que os das livrarias. Quando criança, eu lia alguns livros da coleção Vaga-Lume, pagava R$15, mais ou menos, em cada um. E lá fui eu conferir o preço de um deles. R$27.
Você já leu Flicts, do Ziraldo? É ótimo pra quem está aprendendo a ler. É grande, colorido, e com um ou dois parágrafos por página. Não lembro mais da história, mas lembro disso. E de que esse livro não custava, em hipótese alguma, TRINTA reais.
Ir à Bienal requer também paciência com crianças. Elas não sabem de onde vieram nem pra onde vão, ficam paradas, surgem na sua frente, e atrapalham o fluxo. Excursões escolares são uma tragédia na vida de quem quer apenas comprar uns livros. Os responsáveis pela excursão com certeza devem pensar "aiquelindo meus alunos vão na bienal vão ver livros vão querer ler e ser alunos melhores", mas os alunos querem se pegar nos corredores, entrar na internet do Espaço Volkswagen e tirar foto com um Justin Bieber de papelão. A grande maioria está ali porque os outros estão, e pra promover a algazarra. Por outro lado, vi crianças pequenas lendo livros, inclusive uma menininha de uns quatro ou cinco anos chorando porque não tinha dinheiro pra comprar nenhum. E, coitada, se tivesse, mal ia conseguir comprar um.
Pra mim, o que ficou de positivo foi o stand do Submarino. Apesar de não venderem livros ali, por motivos que desconheço, atualmente são eles que os vendem por preços justos. Serve mais como propaganda do site. Eles também promovem a interação com livros digitais, por meio do Cool-er, fabricado pela Gato Sabido, que eu não conhecia. Parece ser uma versãopobre mais modesta do Reader, da Sony.
Apesar do recorde de público, a Bienal foi um fracasso. Não adianta receber milhares de pessoas e não colaborar com as condições financeiras de grande parte delas. Não adianta receber quase 200 mil estudantes e se vangloriar disso, se não é isso o que a maioria deles quer. Para quem realmente procura livros a um preço acessível, o melhor lugar não é a Bienal, nem sequer as livrarias. Infelizmente.
É complicado julgar o brasileiro desta forma. Primeiro porque os livros, caros como estão, comprometem o salário do trabalhador. Segundo, porque esse desinteresse não é tão grande como sempre ouvi dizer. O brasileiro lê sim, apesar de tudo. Ou a Bienal do Livro não receberia um público enorme durante seu período de exposições.
E a Bienal abusa do público, sem o menor pudor, apesar de os ingressos não serem caros (10 reais, e quem pode paga meia). A começar pelo estacionamento, que custa singelos 25 reais. E não, você não ganha livros de brinde. Ainda assim, pelo que eu vi, é difícil encontrar vagas. Para quem vai de metrô, é a coisa mais fácil do mundo: descer na estação Tietê e sair pelas escadas ao lado do acesso ao metrô sentido Jabaquara. Atrás do minishopping, várias vans, ou mesmo ônibus fretados te levam ao Pavilhão do Anhembi, de graça. E, para voltar, é só esperar no mesmo lugar.
Mais abusivo que o estacionamento, só as praças de alimentação. Num restaurante, o seu prato sai por apenas R$39,50 o quilo. Lanches também não são baratos, nem refrigerantes. É melhor ir sem fome, ou passar fome.
Mas o abuso mais irritante de todos é o preço dos livros. A Bienal é uma grande livraria. Os preços não são diferentes, e era isso o que eu esperava do evento: diferença. Confesso que, quando cheguei, tinha esperança, mas a cada stand eu via preços até mais chocantes que os das livrarias. Quando criança, eu lia alguns livros da coleção Vaga-Lume, pagava R$15, mais ou menos, em cada um. E lá fui eu conferir o preço de um deles. R$27.
Você já leu Flicts, do Ziraldo? É ótimo pra quem está aprendendo a ler. É grande, colorido, e com um ou dois parágrafos por página. Não lembro mais da história, mas lembro disso. E de que esse livro não custava, em hipótese alguma, TRINTA reais.
Ir à Bienal requer também paciência com crianças. Elas não sabem de onde vieram nem pra onde vão, ficam paradas, surgem na sua frente, e atrapalham o fluxo. Excursões escolares são uma tragédia na vida de quem quer apenas comprar uns livros. Os responsáveis pela excursão com certeza devem pensar "aiquelindo meus alunos vão na bienal vão ver livros vão querer ler e ser alunos melhores", mas os alunos querem se pegar nos corredores, entrar na internet do Espaço Volkswagen e tirar foto com um Justin Bieber de papelão. A grande maioria está ali porque os outros estão, e pra promover a algazarra. Por outro lado, vi crianças pequenas lendo livros, inclusive uma menininha de uns quatro ou cinco anos chorando porque não tinha dinheiro pra comprar nenhum. E, coitada, se tivesse, mal ia conseguir comprar um.
Pra mim, o que ficou de positivo foi o stand do Submarino. Apesar de não venderem livros ali, por motivos que desconheço, atualmente são eles que os vendem por preços justos. Serve mais como propaganda do site. Eles também promovem a interação com livros digitais, por meio do Cool-er, fabricado pela Gato Sabido, que eu não conhecia. Parece ser uma versão
Apesar do recorde de público, a Bienal foi um fracasso. Não adianta receber milhares de pessoas e não colaborar com as condições financeiras de grande parte delas. Não adianta receber quase 200 mil estudantes e se vangloriar disso, se não é isso o que a maioria deles quer. Para quem realmente procura livros a um preço acessível, o melhor lugar não é a Bienal, nem sequer as livrarias. Infelizmente.
Muito bom o texto, cara! Concordo com tudo que você disse!
ResponderEliminarEm breve, também pretendo escrever sobre a minha experiência Bienalística desse ano. Foi quase...traumática.
Abraço!
Olha, eu concordo com muita coisa que você falou aí. Adoro a Bienal, vou todos os anos desde criança, não pretendo deixar de ir. Mas realmente, tem muita coisa que precisa melhorar. Vou citar algumas, o comentário vai ficar meio grande, desculpa, haha.
ResponderEliminarTransporte: o estacionamento realmente é absurdo. E super mal sinalizado (meu pai entrou lá por engano, sorte que tinha tolerância). E a fila pra esperar o ônibus pra voltar pro metrô no sábado, às 18:30, devia ter mais de 500 pessoas. sério.
Alimentação: sem condições. Por isso que, devido às minhas experiências anteriores, almocei em casa e levei bolacha e outras comidinhas na bolsa. Sim, sou pobre. Mas pelo menos não me irrito com as filas intermináveis.
Crianças: esse é um problema antigo tb. Quando fui com a escola, me perdi com minha turma (fomos pegar autógrafo das Chiquititas, hahah). E as crianças que vão com os pais tb se perdem, ou se irritam com a multidão, ou choram, ou atrapalham a passagem. Isso sem mencionar os carrinhos de bebê né.
Preço: esse podia ser o diferencial da Bienal, né? que eu me lembre, só a editora Moderna tinha descontos de 25%, 50% nos livros. Nas outras, tava bem caro mesmo. Mas eu acho que, apesar de o brasileiro ler sim, apesar da má fama, ainda não chega nem aos pés da cultura de leitura de países mais desenvolvidos. Ótimo exemplo: enquanto a fila pra ter o livro autografado pelo padre Marcelo era gigantesca, a editora que vendia livros pockets muito, muito bons (inclusive vários da coleção da Agatha Christie) não tinha fila nenhuma. Quer dizer..
Eu acho que a Bienal se vangloria muito dos aspectos quantitativos. É do tamanho de não sei quantos campos de futebol, vai não sei quantas mil pessoas, etc. O que eles têm que começar a se preocupar agora é com o aspecto qualitativo, né. Preços mais baixos, mais organização, menos filas. Aí sim vão ter moral mesmo pra se vangloriar.
Concordo, "Marcos Vinícius". Sem diferencial financeiro não há atrativos que me levem à Bienal novamente.
ResponderEliminarA menos que me torne professora e tenha desconto de 50% em tudo que eu quiser e puder comprar! Hehe
Olha, eu não fui na Bienal esse ano.
ResponderEliminarMas fui outros anos e junto com meus pais, os dois professores de História.
A Bienal é legal e tal, mas não vale a pena, principalmente no seu quesito que deveria ser fundamental: comprar livros.
voltando ao meus pais, eles não curtem a Bienal, porque falam que ela fica muito lotada, e de nada serve, já que os preços dos livros são os mesmos, ou até mais caros que em livrarias.
Meus pais, e eu, quando queremos comprar um livro, e por um preço mais em conta, vamos à feira de livros que tem todo ano na USP. Lá as editoras, tanto as famosas, como as pequenas, levam quase todas suas coleções de livros publicados, alguns até antigos e raros que nem se vende mais nas livrarias, e os preços são baratos, pois elas dão descontos. Dependendo da editora, há descontos de 75% e ainda pode negociar =)
Enfim, uma boa alternativa para se comprar livros é a feira da USP.
A próxima que tiver (provavelmente em novembro) aviso ao pessoal.
(Evo, mau pelo comentário gigante! uhahuahauhua)
Pois é, eu trabalhei na Bienal, e entendi que o evento não está lá, definitivamente, pra promover descontos e angariar muitas vendas. Não. Está lá pra servir de vitrine de lançamentos, especialmente pros vendedores.
ResponderEliminarAs livrarias grandes, que não precisam disso, como a Saraiva e o Submarino, por exemplo, deveriam apostar nos descontos, sim, e vi que muito das menores - das muito menores, mesmo - promoveram descontos fantásticos, coisa como $15 livros do Capote e do Talese. Muita coisa em inglês boa e barata, também.
Mas tudo o que você disse é verdade e se, de verdade, o intuito for incentivar a leitura, a coisa tem que mudar drasticamente. Drasticamente.
Ainda assim, acho que funciona como estímulo aos pequenos que, esses sim, ganham os 'vale-livros' e conseguem trocar por alguma coisinha. E é lindo ver os pequenininhos se apaixonando por alguma capa.
E se você quiser comprar livros com MUITO desconto - 50% a 70% - tem a feira da FFLCH, que logo logo vai acontecer. Te aviso, e vamos lá ficar todos pobres juntos, ok?!
Falácia! Claro que havia desconto. O novo livro do Paulo Coelho, O Aleph, estava custando R$29,00 na Bienal. Na livraria custa R$29,90.
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