segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Flashback


O cenário é Taubaté, mais especificamente a Escola São Luís. A data, uma manhã de segunda-feira qualquer entre 2002 e 2005. Aula de História. A professora abria o livro no ponto onde tínhamos parado na aula anterior, e os próprios alunos liam, ao seu comando, cada parágrafo do capítulo, em ordem de fileiras ou pela escolha de cada um deles. A cada divisão do capítulo, ela parava a leitura, levantava-se e explicava algumas coisas sobre a matéria. A voz dela era leve, suave, lembro bem até hoje. Raramente levantava o tom, mas tinha lá seus momentos de impaciência. Afinal, convenhamos, alunos são alunos em qualquer lugar.

A história é essa. Simplesmente uma professora do "ginásio", de quem eu gostava, tinha seus métodos de ensinar e fazia provas de uma maneira que favorecia a quem estudasse. Corretíssimo.

Em 2005, me formei na 8ª série. Minha escola não tinha o Ensino Médio, então todos nós tivemos que nos mudar para outras. Cada um foi para um lugar diferente, e eu fiquei separado das pessoas de quem eu era mais próximo. A maioria delas foi para a mesma escola, inclusive. Num dia de 2006, fui visitá-los, depois da aula. E, num lugar ao lado da escola, que não faço ideia do que seja, um carro chegava, mas parou. O vidro do carona se abaixou, e, ao volante, lá estava a nossa professora de História. Ela sorriu ao ver seus ex-alunos, falou que estava sentindo nossa falta. E, bom, isso já faz mais de quatro anos. Foi uma das últimas vezes que eu a vi, ou pelo menos a que ficou na minha memória.

O cenário é, de novo, Taubaté. A data é ontem. Como quase sempre, aos domingos, minha mãe veio me acordar já durante a tarde. E me perguntando se a Viviane no meu Orkut era a diretora da Escola São Luís, onde eu tinha estudado até a 8ª série. Sim, provavelmente. Se a Zélia era minha professora de História. Sim, era. Ela tinha falecido. Não senti nada, a não ser um pouco de saudades daquela época. De como tudo era mais simples. Da biblioteca. Da minha primeira professora de História.

Bom, eu levantei e fui ver o recado que a Viviane tinha me deixado. Era verdade, o enterro seria em poucas horas. Depois soube que a causa da morte tinha sido diabete.

Tudo isso me entristeceu, claro. Fiquei chocado, ela era bem nova ainda. Eu gostava muito dela. Mas o tempo fez com que eu não sentisse tanto o que aconteceu ontem. E comecei a pensar: por que isso aconteceu comigo? Será que é melhor estarmos afastados daqueles que nós gostamos na hora da morte? Não estou sugerindo que alguém tente fazer isso. Mas digo isso porque, em 2007, perdi um professor de Biologia, e eu o via todas as quintas-feiras. Ali sim eu senti a perda, me abati. Ele era legal, mas eu não tive nem dois meses de aula com ele. Nem tive tempo pra gostar tanto dele quanto da Zélia. E, sim, essa é mais uma reflexão sobre o tempo... e como ele é estranho.

Quanto à Zélia, eu vou continuar, como nos últimos 4 anos, gostando muito dela. A diferença é que antes eu poderia esperar algum encontro casual no supermercado, e agora não mais. É duro dizer isso, mas acho que a vida é assim.

E, bom, pra mim não importa o quanto eu fucei por aí (sempre faço isso), mas descobri que a mãe dela disse o seguinte, no enterro, para uma aluna da Zélia: "Ela não teve filhos porque dizia que vocês eram os filhos dela." E tem como não ficar feliz em saber disso? Se ela pudesse me ouvir, ou ler, gostaria que soubesse que eu sinto orgulho de ser "filho" dela. Da minha primeira professora de História.

2 comentários:

  1. Foi difícil pra eu acreditar e ainda assim a ficha não caiu. Minha prima me falou que ela tinha morrido e a única imagem que me veio à cabeça foi dela rindo das infinitas piadas que eu fazia...

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