segunda-feira, 12 de julho de 2010

Harry Potter e a diretora da minha escola

Quem me conhece, ou até mesmo quem não me conhece tanto assim, sabe o quanto eu gosto de jogar futebol. Mas nem sempre foi assim. Eu costumava frequentar a biblioteca da escola no intervalo das aulas, em vez de ir jogar com os meus colegas, pelo menos até a terceira ou quarta série. Sempre gostei de ler, afinal. A cada semana, ou menos que isso, era um livro novo. Em geral, eu preferia os de mistério e suspense.

Não vou me lembrar da data exata em que ouvi falar pela primeira vez de Harry Potter, mas foi em 2001. Eu tinha nove anos, e estava ali, na biblioteca, pra variar. A diretora, que às vezes aparecia por ali, entrou, falou qualquer coisa com a bibliotecária, e depois comentou comigo:

- Você já leu o “Rére Porter”? É um best-seller, a garotada tá lendo agora. Meu (insira aqui algum grau de parentesco) leu, e achou o máximo.

- Não. – sempre falei bastante.

- Deveria ler, é uma série de quatro livros, e todo mundo diz que é bom.

Na época, Harry Potter e o Cálice de Fogo era o último livro lançado da série. E era tratado como último dos últimos por quem não tinha lido, ou não sabia que ainda viriam outros pela frente. Eu mesmo, desavisado, demorei para descobrir que a série não terminava ali.

Continuei vasculhando a estante, procurando algum livro mais interessante pra ler, e tive a curiosidade de procurar pelo tal “Rére Porter”, mas não o encontrei.

- Ué, e não tem aqui? – perguntei, um pouco indignado.

- Não. Mas qualquer livraria tem.

Ah, não acredito! Nem suspeitava disso. Enfim, ela fez a pobre recomendação dela e saiu da biblioteca. Mas eu tinha mais o que ler, né. Procurei mais um pouco e peguei algum livro qualquer, com uma capa legal e uma sinopse envolvendo mortes.

Não muito tempo depois disso, eu passeava pela imensidão do shopping de Taubaté, com a minha mãe, quando passamos em frente à livraria e notei uma pilha de exemplares de Harry Potter e a Pedra Filosofal entre os mais vendidos. Aqui eu posso dizer, com certeza, porque eu me lembro muito bem e porque eu acabei de olhar no calendário, que era dia 9 de outubro, uma terça-feira, às vésperas do feriado de dia das Crianças (um beijo pra Nossa Senhora Aparecida). Ainda não tinha pensado em nenhum presente para esvaziar os bolsos dos meus pais, então decidi, antes mesmo de entrar na livraria, que eu aceitaria a sugestão da minha diretora. Eu leria o primeiro livro do “Rére Porter”. Foi o meu presente naquele 12 de outubro. Mas quando eu terminei de lê-lo, pedi os outros três lançados até então. Minha mãe achava legal eu pedir livros pra ler, e nem se incomodou em comprá-los. E isso não foi só com Harry Potter, ainda bem.


A carta que todo mundo já quis receber um dia

Pouco mais de um mês depois, eu já era um pequeno grande viciado na série. E cheguei a contar os dias para a estreia do primeiro filme, que seria no dia 23 de novembro. Mas eu não esperava que o cinema de Taubaté estreasse o filme na data correta, porque, bem... era o cinema de Taubaté. Hoje, eu teria certeza que eles passariam, mas eu era uma criança que esperava pelo pior. Então, naquela bela tarde de sexta-feira, ainda sem saber se o filme estava em cartaz e com poucas esperanças, liguei para o cinema para saber a programação, já que o acesso à internet não era tão fácil como hoje. E eu ouvi o que eu mais queria, aliviado. Guardei o melhor horário, desliguei o telefone e fiquei pulando na cama. Sério, foi indescritível a sensação de saber que, de repente, eu estava a poucas horas de assistir ao primeiro filme de Harry Potter.

Chegando lá, nem tinha tanta gente assim. Harry Potter não era nem perto do que é hoje, não arrastava multidões para os cinemas como arrasta hoje. Também não tive que ouvir ninguém gritando porque o Harry apareceu na tela pela primeira vez. Tenho certeza que se eu for na próxima estreia, como eu sempre gostei de fazer, tanto pra acabar com a ansiedade como pra evitar ler e ouvir coisas sobre o filme antes de assistir, eu vou ouvir esses gritinhos de gente que quer aparecer, ou encontrar aquela galera maneira vestida de Luna, de hipogrifo, de vassoura ou de Hogwarts. Mas isso é outro problema. O que importa é que naquela noite eu senti que o Harry iria dominar o mundo. Ele dominou, e eu me sinto imensamente feliz de ter colaborado com isso.

De qualquer maneira, eu esbarraria nos livros da J.K. Rowling. Mas é à diretora da minha escola que eu devo agradecer por me apresentar o “Rére”. Sim, ela não sabia nada sobre os livros, mas e daí? Ela me recomendou a leitura a tempo de eu me tornar um fã e ter a alegria de conferir a estreia do primeiro filme no cinema. Parece pouco, mas talvez seja magia.

7 comentários:

  1. "- Não. – sempre falei bastante."

    Era chatinho desde sempre né?
    Não lembro exatamente quando foi que eu descobri da existência do Rére, mas desconfio que foi com você. Lembro de ir caminhando até a sua casa pra você me emprestar o "Prisioneiro de Azkaban". Bons tempos, que eu ficava lendo em cima do telhado.


    Gordo, lê uma história pra eu dormir?

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  2. Que legal esse seu texto, Marcos "Vinícius"! Gostei mesmo.

    Eu queria ter participado dessa febre, mas meu bonde já estava em outras partes da biblioteca em 2001... a Tia Má tinha então seus 16 aninhos, sabe como é.

    Vocês todos, jovens (hehe), falam tão bem dessa série, queria poder ter vivido esse fervor na infância pelo bruxinho : )

    Eh bien... Hasta la vista.

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  3. Agora consegui, e reitero: Evo, você devia falar mais!

    E explico: poucas vezes vi um texto tão bem escrito - de cabo à rabo, organizado, conciso - como esse. E isso só pode vir de alguém que realmente PENSA direito. Logo, você devia falar mais. Ainda bem que escolheu uma profissão que dá pra escrever, né?

    Sobre Harry Potter eu não tenho muito mais pra comentar. A não ser: vamos combinar de irmos juntos na estreia. Eu vou morrer de chorar. E quem sabe, até ano que vem, depois do filme, não tenha dinheiro pra ir no parque. Juro que te trago uma varinha! Hahahaha!

    Beijos - que bom que criou o blog!

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  4. Destaque para a legenda e para o beijo para Nossa Senhora. O primeiro, traduzindo o pensamento de todos que leram o livro. O segundo dando uma certa graça ao post. HAHAHA! Mandou bem Evo :)

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  5. Amei!! Vc tem muito senso de humor p/escrever. Parabéns!!
    bjs
    Amo vc!

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  6. O tio Marcos gostou muito do jeito de ler a sua matéria "harry Potter e a Diretora de minha escola"

    Eu tambem participei algumas vezes desta história, via voce lendo o livro na sua casa ou até lá em Santos... kkkkk.
    TUDO DE BOM MEU CAMARADA... SORTE E SUCESSO PARA VOCE......

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  7. 19/11/10 estaremos indo ao cinema então? Te dou carona e EU é que vou de Neville, nem vem que não tem...

    PS: a diretora era a Denise ou a Viviane?

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