quarta-feira, 11 de maio de 2011

Relatos alviazuis, parte III: a batalha perdida

Parte I
Parte II

Domingo, 8 de maio de 2011, 3h20.

Chego ao Joaquinzão. Parece que o jogo vai acontecer ali mesmo, dali a alguns minutos, tamanha é a multidão presente. Em pouco menos de uma hora, cinco ônibus estão completamente tomados e deixam a cidade, rumo a Rio Claro. O horário não impede os torcedores de entoarem as músicas de apoio ao time durante a viagem.

A chegada a Rio Claro é animadora. Os taubateanos não param de cantar, e gritam muito mais alto do que a torcida adversária. A meu ver, a torcida do Velo decepcionou, com muitos espaços vazios na arquibancada para um estádio tão pequeno como o Benito Agnello Castelano, o Benitão, e num dia tão importante para o clube.

O Taubaté entra em campo para o aquecimento já nos braços de sua torcida, que continua cantando a plenos pulmões. A minoria unida no canto da arquibancada destaca-se e ofusca a maioria vermelha com sua animação incessante.

Velo Clube 4x1 Taubaté - Presença em peso dos taubateanos, mas decepção em campo
O jogo começa, o Velo pressiona desde o início, não sai de cima. Num raro lance de ataque alviazul, Gilsinho domina a bola no peito, invade a área e cai propositalmente. E aí entra em cena um homem chamado Robinson José Andréa de Góes, o árbitro da partida. Robinson provavelmente queria cumprir seu trabalho e ir embora pra casa tranquilamente curtir seu Dia das Mães com sua genitora. E, ao marcar um pênalti inexistente para o time visitante, num jogo decisivo, ele se complicou. E percebeu isso.

Gilsinho cobra o pênalti com maestria, e a torcida vai à loucura, sentindo a proximidade do acesso. Mas começa a vê-lo escapar por entre os dedos quando Robinson, o sujeito de amarelo, começa a compensar seu erro para não se complicar com a torcida local. Marcou todas as faltas que poderia e não poderia a favor do Velo. Em uma delas, o rubro-verde empatou. O Taubaté se viu pressionado e quase não atacou depois disso.

A torcida, mesmo tensa, continuou cantando no segundo tempo. Mas viu-se agredida quando, num escanteio, o zagueiro alviazul encostou num adversário, e o árbitro jogou todo seu profissionalismo no lixo, marcando pênalti. Não apenas marcou, como expulsou o jogador taubateano, de forma vergonhosamente efusiva. A cobrança da penalidade marcou o início de um passeio do Velo, e a decepção ganhou o rosto dos torcedores que viajaram até ali para assistir a tal grosseria.


Desafio: encontre o pênalti

O jogo termina, com 4x1 para os adversários. Os irmãos Gisiel e Gilsinho, sem dúvida os maiores ídolos da história recente do Taubaté, aproximam-se do alambrado, chorando, e jogam suas camisas para a torcida. A cena que se iniciou naquele momento foi, sem sombra de dúvidas, a mais triste que já presenciei num estádio. Não sei por que não chorei, mas poderia ter chorado. Como fizeram dezenas de torcedores ao meu lado. Para onde eu olhava, via torcedores conhecidos, de jovens a idosos, com lágrimas nos olhos.

Não foi apenas o árbitro que decidiu a partida, o time também não havia correspondido. Mas naquele momento, nada disso importava mais. A tristeza invadiu o peito dos taubateanos que viajaram horas para estar ali, que sacrificaram uma data como o Dia das Mães para sofrer tal decepção. Não que tivessem se arrependido, até porque isso seria praticamente impossível.

Mesmo diante de tanta tristeza, todas as frases de efeito proferidas incansavelmente pela torcida do Taubaté vieram à minha cabeça, fazendo todo o sentido do mundo. Aquelas lágrimas derramadas na arquibancada do Benitão provaram que o torcedor taubateano tem amor ao Taubaté. Provaram que o Burro nunca caminhará sozinho. E que é capaz de passar por todas as barreiras. A torcida do Taubaté não acredita, ela tem certeza. Do acesso? Não. De que ela estará sempre ao lado do time, seja qual for o resultado. De que ela simplesmente tem orgulho de ser Taubaté.

PS: As fotos dos três posts, além das identificadas por marcas d'água, foram retiradas do orkut. Se você é o autor de uma das fotos e quiser os créditos, entre em contato, mas não me processe, por favor.

Relatos alviazuis, parte II: a fase final


Uma semana depois, lá estava a torcida de novo lotando o Joaquinzão, pronta para a fase decisiva do campeonato. Só dois times do grupo subiriam, e o nosso grupo era complicadíssimo. O primeiro jogo, contra o Velo Clube, deixou isso bem claro: eles perderam um pênalti e ainda saíram na frente, com o Taubaté jogando muito mal. O segundo tempo foi bem diferente. O time reagiu, e virou o jogo com um gol de falta nos acréscimos.

O jogo mais complicado, na teoria, era contra o Penapolense, fora de casa. E a teoria estava certa: fomos dominados, e perdemos por 2x0. Não pude ir, pois a caravana sairia num horário complicado pra mim, e o jogo foi antes do feriado em que já tinha combinado outra viagem. Mesmo assim, no domingo de Páscoa, meu feriado já tinha acabado, e fui ao Joaquinzão assistir a uma ótima exibição da equipe do Taubaté, que emplacou 4x1 no XV de Jaú.

Taubaté 4x1 XV de Jaú - Apoio da torcida no domingo de Páscoa
Para o jogo de volta, em Jaú, tivemos uma viagem cansativa, mas vencemos por 2x0. Na volta, nosso ônibus quebrou, ficamos horas parados na estrada, mas nem por isso a torcida desanimou. O Burro da Central - apelido carinhoso do time - estava próximo do acesso, nosso principal sonho. Bastava uma vitória no jogo seguinte, contra o Penapolense, no Joaquinzão, e um tropeço do Velo em Jaú.

Taubaté 2x2 Penapolense - empate heroico que comprometeu o acesso
Eis que, numa quarta-feira à tarde, o Joaquinzão recebeu o melhor público do ano. Os taubateanos se esforçaram e conseguiram comparecer à partida decisiva do time. Saí de São Paulo de manhã para acompanhar a partida. E vi um Taubaté nervoso sair atrás no placar, com uma arbitragem duvidosa que não percebeu impedimento no primeiro gol do Penapolense e não viu a bola entrar numa falta cobrada por Marquinhos, do Taubaté. Mesmo assim, e mesmo com mais um gol do Penapolense, os taubateanos reagiram, empurrados pela torcida. Cometendo o pecado da ansiedade, perderam muitos gols, mas conseguiram o empate. No jogo da noite, o Velo ficou no empate contra o XV de Jaú, e a sensação de que dava para ter comemorado o acesso naquele momento ficará marcada. Porém, naquele instante, tal resultado inflamou a torcida taubateana, assim como a própria diretoria do clube, que disponibilizou cinco ônibus para compor a maior caravana alviazul do ano.

Depois de muitas conclusões precipitadas que confirmavam a classificação do Taubaté em caso de derrota simples, estudamos melhor a tabela e concluímos que o time precisava de um empate. Qualquer derrota eliminaria o time nos critérios de desempate. Enfim, eu já tinha decidido que não iria ao jogo decisivo contra o Velo  Clube, em Rio Claro. Não por não querer ir, mas por ser Dia das Mães, em respeito à minha mãe. Para minha surpresa, ela mesma me incentivou a viajar. E, diante disso, confirmei minha presença na caravana.

Continua...

Parte III

Relatos alviazuis, parte I: a primeira fase

Inicialmente, escreveria tudo em apenas um post, mas o texto ficou grande demais, e precisei dividir em três partes.

No último domingo, o Esporte Clube Taubaté foi derrotado pelo Velo Clube, jogando fora de casa, pela série A-3, e perdeu a chance de disputar a série A-2. Esse foi o fim de uma saga de quase quatro meses, de viagens, de idas e vindas e de provas de amor do torcedor taubateano.

A história que eu vou contar nada mais é do que a minha história com o Taubaté nesses meses. Apenas um caso de amor de um torcedor por um clube. Poderia ser a sua história, poderia ser a história de qualquer um que faz parte dessa torcida, que descobri ser a mais apaixonada que já conheci.

Era um sábado, meados de janeiro, e eu estava numa pousada em Maceió. Mesmo assim, estava preocupado com uma partida que aconteceria muito longe dali, em Itapira, no interior de São Paulo. Encontrei na internet, com um fraco sinal 3G, uma rádio que transmitiria a partida entre Itapirense e Taubaté, pela primeira rodada da série A-3. Aos trancos e barrancos, tanto no jogo quanto na conexão, o primeiro tempo terminou: 0x0, e fui obrigado a deixar o hotel e o notebook de lado. Continuei, insistente, com o celular na mão, acompanhando o tempo real no Twitter. Comemorei silenciosamente o gol  da vitória, marcado pelo ídolo taubateano Gilsinho, nos minutos finais.

Taubaté 1x0 Paulínia - a torcida compareceu, mesmo com estádio interditado
Na semana seguinte, ainda longe de Taubaté, não pude acompanhar a épica partida entre Taubaté e Paulínia, no Joaquinzão. Gilsinho fez de novo, outra vez nos minutos finais, e garantiu mais uma vitória por 1x0. Mas o que me faz escolher esta dentre as partidas que perdi e que gostaria de estar presente é a prova de amor que a torcida taubateana deu ao clube. Com o estádio interditado, ela subiu até a linha do trem, e, atrapalhada pelas árvores do Joaquinzão, assistiu ao jogo em condições precárias.

Na sexta rodada, com o Taubaté jogando bem e com a sorte ao seu lado, a torcida se mobilizou e foi à rua Javari assistir ao jogo contra o Juventus, num sábado à tarde. Pela primeira vez no ano, tive a oportunidade de comparecer a um jogo do time, e pela primeira vez na vida fui a um jogo do Taubaté fora de casa. Não vi gols, mas vi um bom jogo.

Juventus 0x0 Taubaté - A torcida comparece em peso à Rua Javari
Duas rodadas depois, fui pela primeira vez ao Joaquinzão em 2011. Depois de mais uma vitória, o jogo era contra o Taboão da Serra, que brigava contra o rebaixamento. A partida foi difícil, e terminou empatada em 1x1. Mas saí feliz do estádio, por ter levado comigo uma companheira, que esteve comigo nessa jornada, a partir daquele jogo: minha mãe. Nunca tinha visto um jogo do Taubaté ao lado dela, e agora espero que ela continue me acompanhando.

O primeiro turno terminou com o Taubaté na ponta da tabela, e o segundo começou prometendo fortes emoções. No sábado de Carnaval, com uma chuva ininterrupta e uma arbitragem horrorosa no Joaquinzão, o Taubaté cedeu o empate à Itapirense nos acréscimos: 1x1. Depois deste jogo, faltei à caravana contra o Paulínia - e me arrependi depois, já que vencemos por 2x1. E faltei também a uma aula para ir a Taubaté numa quarta-feira à tarde: mais chuva e derrota para o Velo Clube por 1x0, numa falha do goleiro e ídolo Gisiel.

Eis que, no fim de semana seguinte, numa loucura de idas e vindas, fui para Osasco, peguei metrô, trem e ônibus, e cheguei ao... CT do Grêmio Osasco. Quase na hora do jogo. Não ouvi sons de torcida, mas bati no portão. O porteiro me atendeu e estava me explicando como fazer para chegar ao estádio (do outro lado da cidade), quando dois carros entraram. Em um deles, um jogador de categorias de base do time; no outro, um jogador profissional que estava no departamento médico, e que me ofereceu carona. Não contei que era torcedor do Taubaté, com medo de ser deixado no meio do caminho, e terminei entrando no estádio de graça e ficando na torcida do Taubaté. Infelizmente, perdemos o jogo e a liderança, nos minutos finais.

Daí em diante, um período assustador. Empate com o lanterna Barueri, em casa. Derrota para o Juventus, em casa - mais uma vez no fim do jogo. E derrota para o Flamengo, numa quarta-feira à tarde, em Guarulhos. Nesse jogo, mais uma vez fui por conta própria (e acertei o caminho). Poucos torcedores taubateanos conseguiram comparecer, e mesmo assim não foram recompensados.

Com a classificação a perigo, a torcida viajou novamente, no domingo seguinte, desta vez para Taboão da Serra. E de lá trouxemos um empate, que nos deu a oportunidade de decidir em casa, contra a Inter de Limeira. Se não vencêssemos, estaríamos fora. O Joaquinzão, lotado pela primeira vez no ano, veio abaixo quando o grandalhão Creedence marcou o gol da vitória suada sobre os limeirenses. Enfim, com muitas dificuldades, como sempre, alcançamos nosso primeiro objetivo.

Continua...

Parte II
Parte III